É cada vez mais constante ouvir pessoas insatisfeitas com a falta de
compaixão e fraternidade, especialmente no cotidiano das grandes cidades, onde
o tempo das relações tem sido reduzido e a presença física substituída pela
tecnologia, mesmo dentro de casa, em pequenas famílias. O sentimento de solidão
parece que aumentou. Ao mesmo tempo em que as pessoas vivem no seu dia a dia as
banalizações de valores como fraternidade, solidariedade, compaixão e
responsabilidade, por outro lado, procuram atividades que contemplem estes
valores humanos, mostrando uma atitude paradoxal.
Recentemente, em uma conversa informal, debatemos sobre "o mal do
mundo" que reside na ausência de humanidade, ou seja, na ausência dos
valores familiares que cada um de nós adotou e que nas últimas gerações parece
não fazer mais sentido.
Falemos apenas de um destes
valores que são fundamentais para que as relações familiares e sociais sejam
saudáveis: a responsabilidade, tão divulgada e solicitada nas diversas
situações das relações humanas. Aprendemos que responsabilidade é uma atitude e
compromisso individual no convívio humano e que pertence ao grupo dos que são
tidos como inteligentes na escala animal, portanto nós, seres humanos.
Aprendemos que responsabilidade é a senha para ser adulto emancipado,
"dono do próprio nariz" e das próprias decisões. Aprendemos que ser
responsável é ser dono dos próprios atos e das consequências que eles possam
ocasionar. No entanto, o que se observa é um cenário social em todas as
dimensões com exemplos e situações onde a responsabilidade não se faz presente,
ou melhor, que a irresponsabilidade tomou o lugar de "honra" nas
esferas política, social, familiar, empresarial, educacional e pessoal, onde os
indivíduos apenas assistem anestesiados a uma variedade de fatos e ficam
imobilizados como se ingerissem um novo ópio: o descaso pela vida, o abandono
pelo ser humano próximo e pela solidariedade fraterna, valor maior da
humanidade.
"A meu ver, criamos uma sociedade em que as pessoas acham cada vez
mais difícil demonstrar um mínimo de afeto aos outros. Em vez da noção da comunidade
e da sensação de fazer parte de um grupo, uma característica que achamos tão
reconfortante nas sociedades menos afluentes, encontramos um alto grau de
solidão e perda de laços afetivos. Apesar de milhares de pessoas viverem em
grande proximidade, parece que muita gente, principalmente os velhos, não têm
com quem falar, a não ser com os bichos de estimação" (Dalai-Lama, 2000).
A atitude impulsiva aos apelos comerciais, a supervalorização pelo ter e
pouco pelo ser individual, desenvolvem um sentimento de pertencimento pelo que
é material. Este sentimento superficial origina a necessidade de demonstrar
competências e habilidades individuais, e nestas a competição é a palavra chave
das relações, com um grau de rigor que suprime a solidariedade e fraternidade,
mesmo nas relações familiares ou de vínculos mais próximos como os de trabalho.
O "vale tudo" parece ocupar lugar nas relações e as pessoas
nelas envolvidas assimilam rapidamente como natural e aceitável, aquilo que é
inaceitável, desde situações de abandono de um bebê em um rio poluído de uma
grande cidade até a insegurança pública absurda que ronda as ruas, adentra as
casas e mata pais e filhos de uma vez só.
Onde está a nossa indignação? Valor também aprendido e agora já perdido…
Precisamos começar tudo de novo, recomeçar com uma nova lição, retomando
alguns ensinamentos que preservávamos como fundamentais para o amadurecimento
de qualquer ser humano – digno, responsável, ético e honesto – se quisermos
fazer a sociedade e o planeta que habitamos um pouquinho melhor.
Somos todos responsáveis pela preservação da natureza, somos todos
responsáveis em difundir e espalhar a fraternidade nos pequenos gestos e
atitudes; na solidariedade, a começar dentro de casa; na família de todo dia.
Somos responsáveis pela grande fraternidade mundial através do amor fraterno,
do sorriso, do acolhimento e da sinceridade do olhar.
Começar de novo com novo propósito: Por qual caminho? Com que mestre? Em
que escola? Com que governo?
Comece fazendo o melhor que puder, por você, por alguém.
Comece hoje, com consciência e amor.
"Ao cultivarmos um sentimento
profundo e carinhoso pelos outros, passamos automaticamente para um estado de
serenidade. Esta é a principal fonte da felicidade" (Dalai-Lama, 2000).
 
 
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